Willian Crookes

Antes de apresentar os fatos espíritas observardos rigorosamente à luz da ciência por William Crookes, julgamos necessário fazer o leitor conhecer quem é este eminente sábio, que, estudando o Espiritismo para saber de que lado se achava a verdade, se com os espiritualistas ou com os materialistas, não temeu, achando-a com os primeiros, tornar públicas as suas conclusões.

Para isso traduzimos resumidamente as seguintes palavras do
Doutor Paul Gibier (1).

(1) O Espiritismo (Faquirismo Ocidental) tradução portuguesa. Edição da Federação Espírita Brasileira.

Aos 20 anos, Crookes publicava interessantes memórias sobre a luz polarizada; depois, foi um dos primeiros, na Inglaterra, a estudar, com o auxílio do espectroscópio, as propriedades dos espectros solar e terrestre. Deve-se a ele sérios trabalhos sobre a medida da intensidade da luz, e engenhosos  instrumentos: o fotômetro de polarização e o microscópico espectral, por exemplo. Os seus escritos sobre a química geral foram muito apreciados desde o momento em que apareceram.

E ele o autor de um tratado de análises químicas (Méthodes Choisies), hoje clássico. Deve-se-lhe numerosas pesquisas em Astronomia e principalmente sobre a fotografia celeste. Em 1855-56, as Sociedades Reais de Londres, que o admitiu no número de seus membros ativos - em primeira votação - decretou-lhe um auxílio monetário para prosseguir em seus trabalhos sobre a fotografia da Lua. O governo da Rainha o enviou ultimamente a Orara para observar um eclipse.

Acrescentamos que ele, além disso, se ocupou de medicina e de higiene, do que dão testemunho os seus trabalhos sobre a peste bovina, etc. Mas, duas descobertas têm sobretudo classificado Crookes entre os mestres da ciência moderna: o ilustre sábio era já distinto pela sua descoberta de um processo de amalgamação com o auxílio do sódio, processo que é empregado hoje na Austrália, na Califórnia e na América do Sul pela indústria metalúrgica do ouro, quando fez conhecer um nôvo corpo simples metálico: o Tálio. Aprecia-se o valor de semelhante descoberta. quando se sabe que o número de corpos simples conhecidos na série dos metais se elevava à cerca de cinqüenta. Ele foi conduzido a essa preciosa descoberta pelos seus trabalhos sobre a análise espectral. Foi assim, de fato, que foram insulados o césio, o rubidio e o índio.

A segunda descoberta, de Crookes vem corroborar o que avançamos; queremos falar da matéria radiante.

A matéria aparece aos nossos sentidos sob três estados bem diferentes: sólido, líquido e gasoso. Existe, provavelmente, uma infinidade de estados da matéria, mas não conhecemos senão três. Crookes nos fez entrever um quarto.

Por uma série de experiências, feitas com rara exatidão, o
demonstraram os estados entrevistam por Faraday, denominando-a
matéria radiante.

Não queremos fazer o histórico dessas experiências tão importantes sob o ponto de vista filosófico da Química, da Física e do estudo da matéria em geral: em resumo resulta disso que a matéria, em sua essência, deve ser una e que os corpos variados que caem sob os nossos sentidos imperfeitos não são senão um agrupamento, uma estrutura molecular especial da matéria, segundo a opinião do celebre químico Boutlerow, de S. Petersburgo, que, dizemo-lo incidentemente, confirmou o que pôde verificar das experiências do Crookes sobre a fôrça psíquica.

Crookes repetiu as suas experiências sobre a matéria radiante em 1879 (setembro), no Congresso da Associação Britânica para o adiantamento das ciências, e em 1880, na Escola de Medicina de Paris e no observatório, a convite do Professor Würtz e do Almirante Mouchez. Os efeitos produzidos pela matéria nesse estado foram os mais surpreendentes e de uma fôrça formidável, valendo um grande êxito para Crookes.

As poucas linhas que precedem darão, segundo esperamos, uma idéia do alto valor científico do homem que não temeu enfrentar o estudo dos fenômenos espíritas.

Por isso, quando o ilustre membro da Sociedade Real anunciou no Quartely Journal que se ia ocupar dos fenômenos chamados espíritas, foi um grito geral: Enfim! vamos pois saber como havemos de pensar. Mas desde os primeiros artigos, quando se viu Crookes admitir a realidade dos fenômenos e declarar que os tinha observado, pesado, medido, registrado, etc., o caso mudou de figura. Houve, sem dúvida, grande número de pessoas que tinham o assunto como julgado; mas nem todo o mundo quis render-se, e palavras de reprovação mais ou menos sinceras se fizeram ouvir. Não será esses uns dos incidentes menos
curiosos da história do Espiritismo.

Crookes tinha, entretanto, mostrado a maior severidade na série das suas pesquisas; mas as pessoas que se achavam desconcertadas no momento da digestão tranqüila dos seus conhecimentos adquiridos, ficaram irritadas por ver pronunciar-se contra elas um juiz do qual tinham antecipadamente aceito as conclusões, mas com a condição, implicitamente formulada, de que seriam conformes com as suas idéias.

Ver-se-á, entretanto, que essas pesquisas foram empreendidas com espírito verdadeiramente científico.

O espiritualista, diz Crookes, fala de corpos pesando 50 ou 100 libras, que se elevam ao ar sem a intervenção de fôrça conhecida; mas o químico está habituado a fazer uso de uma balança sensível a um peso tão pequeno que seriam necessários 10.000 deles para perfazer um grão. Ele tem base para pedir a esses poder, que se diz guiado por uma inteligência que suspende ao teto um corpo pesado, que faça mover, sob condições determinadas, a sua balança tão delicadamente equilibrada.

O espiritualista fala de pancadas que se produzem nas diferentes partes de um quarto, quando duas ou mais pessoas estão tranqüilamente sentadas ao redor de uma mesa. O experimentador científico tem o direito de pedir que essas pancadas se produzam sobre a membrana esticada de seu fonautógrafo.

O espiritualista fala de quartos e de casas sacudidas por um poder sobre-humano, mesmo até a ponto de ficarem danificadas. O homem de ciência pede simplesmente que um pêndulo colocado sob uma campânula de vidro e repousando em sólida alvenaria seja pôsto em vibração.

O espiritualista fala de pesados trastes em movimento de um aposento a outro sem ação do homem. Mas o sábio construiu instrumentos que dividem uma polegada em um milhão de partes; e tem portanto o direito de duvidar da exatidão das observações efetuadas se a mesma fôrça é impotente para fazer mover de um simples grau o indicador de seu instrumento.

O espiritualista fala de flôres molhadas pelo orvalho fresco, de frutos, mesmo de seres vivos, trazidos através de janelas fechadas e mesmo através de sólidas muralhas de tijolo. O investigador científico pede, naturalmente, que um peso adicional (ainda que não tenha mais que a milésima parte de um grão) seja depositado em uma das conchas da sua balança quando a caixa estiver fechada à chave. E o químico pede que se introduza a milésima parte de um grão de arsênico através das paredes de um tubo de vidro, no qual está água pura hermeticamente fechada.

O espiritualista fala das manifestações de uma fôrça equivalente a milhares de libras e que se produz sem causa conhecida. O homem de ciência, que crê firmemente na conservação da fôrça e que pensa que ela nunca se produz sem um esgotamento correspondente de alguma coisa para substituí-Ia, pede que as ditas manifestações se produzam no seu laboratório, onde ele as poderá pesar, medir, e submeter a seus próprios ensaios.

Foi com estes sentimentos que Crookes enfrentou o estudo dos fenômenos cujo exame, no seu entender, se impunha à ciência, sem que ela pudesse protelar por mais tempo.

Logo depois de ter feito esta espécie de profissão de fé científica, o autor acrescenta, em uma nota, a observação seguinte:

Para ser justo a esse respeito, devo estabelecer que, expondo estes intentos a vários espiritualistas eminentes e a médiuns entre os mais dignos de confiança da Inglaterra, eles manifestaram perfeita confiança nos êxitos da pesquisa, se fosse lealmente prosseguida do modo por que indiquei aqui, oferecendo-se para me ajudar com todo o poder ao seu alcance e pondo à minha disposição as suas faculdades particulares. Até ao ponto aonde cheguei, posso acrescentar que as experiências preliminares têm sido satisfatórias.

Texto extraído de do livro  "Fatos Espíritas" , edição da Federação Espírita Brasileira, FEB, em tradução de Oscar D'Argonnel.

 

Numerosos cientistas de renome, mesmo diante dos fatos mais convincentes, hesitaram em proclamar a verdade, com receio das conseqüências que isso poderia acarretar aos olhos do povo. Crookes, porém, não agiu assim. Ele penetrou o campo das investigações com o intuito de desmascarar, de encontrar fraudes, entretanto, quando constatou que os casos eram verídicos, insofismáveis, ele rendeu-se à evidência, curvou-se diante da verdade, tornou-se espírita convicto e afirmou: - “Não digo que isto é possível; digo: isto é real !”

Willian Crookes desencarnou em 04 de abril de 1919, em Londres, Inglaterra.