Continuação de "O Espírito Tradicional da Igreja - Por Vitor Manuel Adrião".

A tradição Católica, o seu dogma teológico, baseia-se em três fórmulas de Fé, chamadas respectivamente: Credo de Niceia (o mais antigo, constando da Missa da Igreja Romana, redigido no ano 325), Credo de Atanásio (em oposição ao anterior, seguido pela Igreja Ortodoxa do Oriente) e Credo dos Apóstolos (surgido quatro séculos depois do primeiro). O texto do Credo de Niceia é o seguinte:

«Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, engendrado de seu Pai antes de todos os mundos, Deus de Deus, Luz da Luz, Verdadeiro Deus do Verdadeiro Deus, engendrado, não feito; sendo da mesma Substância que o Pai, por quem todas as coisas foram feitas; que, por nós homens e por nossa Salvação, desceu do Céu, e Se encarnou, pelo Espírito Santo, da Virgem Maria, e se fez homem, e por nós também, foi crucificado, sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado, e ao terceiro dia ressuscitou, conforme as Escrituras, e ascendeu ao Céu, e está sentado à mão direita do Pai; e voltará de novo em Sua Glória para julgar tanto os vivos como os mortos, e cujo Reino não terá fim.

«E creio no Espírito Santo, senhor e Dispensador de Vida, que procede do Pai e do Filho, e junto com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, e falou pelos profetas; e creio numa Igreja Católica e Apostólica; reconheço um baptismo para a remissão dos pecados, e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo futuro.»

Por depender muito a compreensão do Credo de Niceia da tradução exacta do original grego, vai aqui incluso, para comparação, o texto desse mesmo original:

Esse Credo mostra já o afastamento acentuado da doutrina original ministrada por Jesus o Cristo, pois foi no Concílio de Niceia que se rompeu definitivamente com a Fonte do Saber Iniciático, doravante em posse de uns escassos eleitos, ou seja, a elite oculta do Cristianismo. A Fórmula do Cristo como o texto original em que o Credo se baseou, nunca foi traduzida. Mas Leadbeater (in O Credo Cristão. Editora Pensamento, São Paulo) faz uma tentativa de paráfrase do seu significado, baseado nos ensinamentos esotéricos dos primitivos Padres Apostólicos, muitos deles Essénios e depois Gnósticos:

«Cremos em Deus, o Pai, de quem procede o Sistema, isto é, o nosso Mundo e todas as coisas nele existentes, sejam visíveis ou invisíveis; e em Deus, o Filho, Santíssimo, Único Nascido de Seu Pai, antes de todos os Ciclos, não criado e sim emanado, sendo da mesma Substância do Pai, Verdadeiro Deus procedente do Verdadeiro Deus, Verdadeira Luz procedente da Verdadeira Luz, por quem todas as formas foram criadas; que, por nós, homens, desceu do Céu e penetrou as Águas da Matéria, mas daí subiu de novo em Glória ainda maior para um Reino sem fim; e em Deus, o Espírito Santo, o Dispensador de Vida, emanado também do Pai, igual a Ele e ao Filho em Glória; o qual se manifesta através de seus Anjos; reconhecemos uma Irmandade de Homens Santos, que conduz até à mais Alta Irmandade Maior, e uma Iniciação emancipando das cadeias do pecado e libertando da roda do nascimento e da morte, para a Vida Eterna.»

Esse texto terá sido redigido com a finalidade de condensar numa fórmula de fácil memorização os ensinamentos esotéricos dados originalmente pelo Cristo aos Apóstolos, num processo mnemónico em que cada frase devia recordar às mentes muito mais do que as meras palavras que nela se continham.