A História

    Hércules pergunta ao seu Mestre:

    - Diga-me o Caminho, Ó Mestre, de minha Alma. Eu busco as maçãs de Ouro (fruto da Árvore da Sabedoria). Eu as necessito rapidamente para meu proveito. Mostra-me o caminho mais rápido e irei!

    Resposta do Mestre:

    - Não é assim, meu filho. O Caminho é longo. Confiarei-te somente duas coisas e, depois, a ti corresponderá comprovar a verdade do que digo.

    1 - Lembra que a árvore sagrada está bem custodiada. Três formosas donzelas apreciam a árvore, protegendo bem seu fruto. Um Dragão de cem cabeças protege as donzelas e a árvore. Guarda-te bem da força demasiado grande para ti, dos enganos demasiado sutis para tua compreensão. Vigia bem.

    2 - A Segunda coisa que eu te diria é que tua busca te levará onde te encontrarás com cinco grandes provas no caminho. Cada uma te proporcionará o âmbito para a Sabedoria, a compreensão, a destreza e a oportunidade. Vigia bem. Mas temo, meu filho, que tu fracassarás em reconhecer estes pontos sobre o Caminho. Porém, só o tempo o mostrará deus te acompanhe.

    Confiante, porque pretendia o êxito e não o fracasso, Hércules saiu ao caminho, seguro de si mesmo, de sua sabedoria e de sua força.

    Buscou primeiramente por toda a região Norte do planeta, procudando a árvore sagrada. Perguntou a todos os homens que encontrou, porém nehum lhe soube responder. O tempo passou, embora ele continuasse procurando de lugar em lugar e por muitas vezes voltou sobre seus próprios passos em sua denodada busca. Embora triste e desanimado, continuou sua procura.

    O Mestre, vigilante, de longe o acompanhava, enviou Nereu para ver se podia ajudar. Esse veio repetidas vezes em forma variável e com diferentes palavras de verdade, porém Hércules não respondia, nem sabia que o mensageiro era para ele. Não reconheceu a ajuda tão sutilmente oferecida.

    A primeira das cinco provas menores tinha passado e o fracasso caracterizou esta etapa.

    Enveredou então pelo Caminho do Sul, o lugar da escuridão. A princípio sonhou com o êxito rápido, porém Anteo, a serpente, o encontrou nesse caminho e lutou com ele, vencendo-o em todas as ocasiões. "Ela custodia a árvore" - pensou Hércules - "a árvore deve estar muito perto dela. Devo acabar com seu guardião e assim, destruindo-o, abaterei a árvore e colherei seus frutos". Contudo, apesar de lutar com muita força, ele não triunfou.

    - Onde está minha falta? Por que Anteo pode vencer-me, se ainda quando bebê eu destruí uma serpente em meu berço com minhas próprias mãos? Por que fracasso agora?

    Lutando com todo o seu poder, ele agarrou a serpente com ambas as mãos e elevou-a ao alto, afastando-a do solo. A luta estava terminada, pois Anteo perdeu suas forças, mas antes disse: "Virei outra vez com diferente aparência no oitavo portal. Prepare-se para lutar".

    Feliz e confiante, Hércules continuou seguro de si mesmo e se voltou para o Oeste, onde encontrou o desastre, pois entrou, sem perceber, na terceira grande prova, onde permaneceu longo tempo sem avançar, pois ali encontrou Busiris, o grande enganador, filho das águas, e parente próximo de Poseidon. Seu trabalho é conduzir os filhos dos homens ao erro, por meio de palavras de aparente sabedoria, afirmando conhecer a verdade e, com rapidez, os homens que procuram um Mestre fora de si mesmos, acreditam nele. Ele fala belas palavras dizendo:

    - Eu sou o mestre. A Mim me foi dado o conhecimento da verdade e deveis fazer sacrifícios por mim. Aceitem o caminho da vida através de mim. Somente eu sei a verdade e ninguém mais. Minha verdade é justa. Qualquer outra razão é errada e falsa. Escutem minhas palavras, permaneçam comigo e serão salvos.

    Hércules obedeceu, e diariamente seu entusiasmo pelo caminho primitivo (a terceira Prova) se debilitou e já não procurava mais conquistar a árvore sagrada. Sua força esgotou-se. Ele amou, adorou a Busiris e aceitou tudo o que ele disse. Sua debilidade crescia dia após dia, até que chegou um dia em que seu amado Mestre o amarrou a um altar e o manteve atado durante um ano.

    Um dia, de imediato, quando já estava lutando para libertar-se, lentamente veio à sua mente umas palavras ditas por Nereu havia muito tempo: "A VERDADE ESTÁ EM TI MESMO. Em ti existe um poder, uma força qua jaz ali, o poder que é a herança de todos os filhos dos homens que são os filhos de deus". Neste instante, calmo, viu Busiris, por cuja causa ele estava nesse transe e havia permanecido prisioneiro, atado aos quatro cantos do altar, por um ano inteiro.

    Então, com a força que é inerente a todos os filhos de deus, rompeu suas amarras, pegou o falso Mestre (que havia parecido ser tão sábio) e o atou ao mesmo altar em seu lugar. Não disse nada, porém o deixou ali para aprender.

    E seu Mestre real percebeu o momento da libertação e voltando-se para Nereu, disse: "A terceira grande prova foi vencida. Tu o ensinaste como encontrar a saída e, a seu devido tempo, ele soube encontrá-la. Que siga adiante".

    Instruído e sem interrogações maiores, Hércules continuou com sua busca e percorreu muitos caminhos. O ano que tinha passado inclinado no Altar de Busiris lhe havia ensinado muito e por isso retornou com maior sabedoria à sua senda.

    Repentinamente, deteve seus passos. Um grito de profunda dor feriu seus ouvidos. Alguns abutres, dando voltas sobre uma rocha distante, chamaram a sua atenção; então ouviu novamente o grito. Devia prosseguir seu caminho, ou buscar aquele que parecia estar em necessidade e assim atrasar seus passos? Refletiu sobre o problema da demora: um ano se havia perdido e sentiu a necessidade de apressar-se. Outra vez, ouviu um grito romper o ar e Hércules, com passos rápidos, apressou-se a ir em ajuda de seu Irmão que sofria. Foi quando encontrou Prometeu acorrentado a uma rocha, sofrendo dores horríveis, causadas pelos abutres que bicavam seu fígado, matandoo pouco a pouco.

    Imediatamente Hércules rompeu a corrente que o sujeitava e libertou-o, afugentando os abutres para sua distante guarida e, depoi, cuidou do enfermo até que se recuperasse totalmente das feridas. Então, com muita perda de tempo, novamente começou a se pôr no caminho. Nesse instante, sentiu dentro de si a voz de seu Mestre Real, que lhe disse:

    - A quarta prova no caminho sagrado havia passado com aproveitamento. Não havia ocorrido nenhum atraso. A regra no caminho eleito, que apressa todos os êxitos é: APENDE A SERVIR.

    E Hércules continuou sua busca da árvore sagrada, agora dirigindo-se para o Leste.

    Um dia, já cansado de viajar, ouviu de um peregrino passante, que próximo a uma montanha distante a árvore sagrada seria encontrada. Imediatamente ele colocou seus pés no caminho e, em um dia ensolarado, viu o objeto de sua busca.

    Apressando seus passos, gritou em sua alegria:

    - Agora tocarei a Árvore Sagrada: vencerei o dragão que lhe custodia; verei as formosas donzelas de grande fama e colherei as maçãs de ouro.

    Porém, novamente foi retido por um sentimento de profunda compaixão. Atlas estava em sua frente, cambaleante sob a carga do mundo sobre seus ombros. Seu rosto estava marcado pelo sofrimento, seus membros estavam curvados pela dor; seus olhos estavam cerrados pela agonia; ele não pedia ajuda; não viu Hércules, mas permanecia encurvado pela dor, pelo peso do mundo. Hércules, tremendo, observou e avaliou o peso da carga e da dor. Esqueceu sua busca. A Árvore Sagrada e as maçãs de ouro desapareceram de sua mente e somente procurou ajudar o gigante, e isso sem pestanejar; lançou-se para adiante e ansiosamente tirou a carga dos ombros de seu Irmão, levantando-a sobre seus próprios ombros, tomando para si o castigo de sustentar o mundo. Fechou seus olhos, firmando-se com esforço, e eis que a carga rodopiou no espaço, onde permanece até hoje, deixando ele e também Atlas livres.

    Diante dele estava parado o gigante e em suas mãos estavam as maças de ouro, oferecendo-as, com amor, a Hércules. A busca havia terminado.

    As três irmãs sustentavam ainda mais maçãs de ouro e o instavam também a recebê-las de suas mãos. Eglé, a formosa donzela, que pe a glória do sol poente, disse-lhe, colocando uma maçã em sua mão: "O caminho para nós está sempre marcado pelo serviço. Atos de amor são contíguos ao caminho". Depois Eriteia, que cuida da porta que todos devemos passar antes que elas se fechem sozinhas ante o Grande que preside, lhe deu uma maçã, e em suas costas, inscrita com luz, estava a palavra dourada: Serviço. "Lembra isto". disse, "não esqueça".

    E, finalmente chegou a Hespérides, a maravilha da estrela vespertina, e lhe disse com clareza e amor: "Sê e serve, e anda pelo caminho de todos os servidores do mundo daqui por diante e para sempre".

    "Então, restituo essas maçãs para aqueles que seguem a mesma rota", disse Hércules, regressando para onde tinha começado sua luta.

    A totalidade desta história significa realmente uma lição que os Aspirantes têm de dominar, e é muito difícil de aprender até que se tenha passado pelas provas de Áries e Touro. No plano físico, no campo do cérebro e em seu estado de consciência desperta, o discípulo necessita aprender a registrar contatos com a Alma (por meio de Nereu, ou seja, da Intuição) e reconhecer suas qualidades. Ele não deve ser somente o místico visionário, mas deve agregar à realização mística o conhecimento oculto da realidade. Isso é esquecido com frequência pelos Aspirantes. Eles descansam contentes com a aspiração e com a visão da meta celestial e se esquecem que vivem em um Universo cuja essência é a mente divina, daí a necessidade de a treinar em todas as suas nuances ("Por meio da mente se formula a teoria, se distingue a verdade e se capta a Divindade".)

    Geralmente os Geminianos forjam, no crisol da vida, uma equipagem que se caracteriza pela sinceridade, o bom desejo, o caráter agradável, e são conscientes da pureza do motivo e da boa vontade, necessários para cumprir os requisitos e a satisfação de que alcançaram um certo estado de desenvilvimento que os autoriza a seguir. Porém lhes falta uma coisa ainda: não possuem o que se poderia chamar "a técnica da presença"; não privilégio e prerrogativa para possuir. Eles creem na realidade da Alma, na possibilidade da perfeição, na Senda que deve ser pisada, porém a crença ainda não foi transmutada em conhecimento do reino espiritual. E pior! Eles não sabem como conquistar sua meta! Portanto, eles, como fez Hércules, empreendem a quintupla busca.

    Como Gêmeos é um signo mental, é preciso que seus nativos vençam, acima de tudo, a fascinação e a ilusão, pois no desenvolvimento da aspiração espiritual, o discípulo é muito propenso a cair no astralismo e no psiquismo inferior, adorando ídolos ou símbolos que muitas vezes não se enquadram, por superiores ou inferiores, no quadro mental do Aspirante, como foi o caso de Hércules com Busiris. A fascinação faz com que as coisas estejam sempre mudando, tomando sempre uma ou outra forma. Refere-se à aparência e não à realidade, e na terra se mantém pelas aparências, nunca pelo seu valor real, sempre tendente a decepcionar o fascinado.

Comentário

    "Buscar sem descanso (PERSEVERANÇA), decepção (COMPREENSÃO ESPIRITUAL) ou demasiada presteza (PRUDÊNCIA)."

    1 - As maçãs de ouro representam a sabedoria que tem de ser conquistada por meio do conhecimento interno.

    2 - É preciso aprender a perceber a palavra do Divino em si mesmo (Nereu procurando se comunicar com Hércules), esquecendo o conhecimento e os instrutores externos  (os Busiris da vida).

    3 - A compaixão e o espírito de sacrifício devem ser exercitados pelo Geminiano. Elas nos levam ao SERVIÇO. Sem essas qualidades jamais ele conquistará a Sabedoria. A compaixão por Prometeu e o espírito de sacrifício por Atlas (a 33a Vértebra, onde repousa a cabeça, tem o nome de Atlas, e a Cabeça representa o mundo que ele carregava) permitiram que Hércules conquistasse as Maçãs de Ouro sem ter de enfrentar o Dragão que protegia as macieiras. Isto é muito importante, pois demonstra cabalmente que não é a luta contra o mal que existe em nós que nos torna vitoriosos, mas a aquisição de valores que nos exaltam perante nossa própria Alma.

Templo Maçônico - Helvécio de Resende Urbano Júnior 33º