OS ARCANOS MAIORES E A RODA DA VIDA

* Quem é o Louco?  O Louco somos nós. É o viajante, o que passa, a alma do errante, a entrada e a saída do labirinto, que é a roda da vida representada pela união dos 21 Arcanos Maiores.
O Louco é o Louco. Como tal, conhece tudo mas o ignora. Ou se prefere, tem todos os dons, todas as verdades, todas as alegrias, todas as maravilhas do mundo visível e invisível, mas não tem consciência disto. Cada etapa da vida do Louco é representada por um arcano que nos interroga e nos confronta a um enigma, coincide com uma experiência humana e uma tomada de consciência. É este o caminho que vamos tentar percorrer juntos.

 * A 1º Porta- O Despertar da Vontade ou O Encontro com O Mago: Aquele que busca a si mesmo encontra o Mago. É um mago ou um ilusionista. Qual é a diferença entre os dois? O Mago exerce o poder de sua vontade sobre o mundo da natureza e da vida, enquanto que o ilusionista nos cria ilusões, nos engana sobre a realidade das coisas.
Ao haver superado a prova da ilusão e ter tomado consciência do poder mágico de sua vontade, o Louco pode tentar ultrapassar a 2ª etapa.

* A 2ª Porta - Encontro com a Sacerdotisa ou A Busca da Verdade: Para que a vontade tenha efeitos e seja frutífera, é preciso utilizá-la corretamente. A vontade desenfreada corre o risco de dispersar-se ou de ser desprestigiada. Precisa de um molde para tomar uma forma distinta, limites para poder obter todo seu potencial e o melhor dela mesma. Necessita um objetivo.
Se concentrarmos nossa atenção em algo, então esta coisa existe.O Louco que atua sabiamente ou que exerce sua vontade com sabedoria, superou a 2ª prova da loucura e da ignorância. Pode apresentar-se à 3ª Porta.

* A 3ª Porta - A Alegria de atuar ou o Encontro com a Imperatriz: Se a sabedoria se basta a si mesma, se a razão ganha sistematicamente, se nos detemos definitivamente em um estado de recuo, se tomamos constantemente medidas e nos impomos limites muito severos, nos tornamos estéreis.
A vontade unida à sabedoria tem que reencontrar a alegria e franquear a porta de expansão para ser fecunda. Para que isto aconteça, tem que atuar, semear, produzir, dar luz e criar. Tem que reproduzir-se até alcançar o infinito. Tem que sentir a alegria de atuar.Sentindo esta alegria de atuar, o Louco pode dirigir-se até a 4ª Porta.

* A 4ª Porta - A Capacidade de ação ou o Reencontro com o Imperador: Que maravilha que a vida possa gerar e reproduzir-se a si mesma infinitamente, pois desta maneira o homem dispõe de um grande jardim e de uma grande riqueza que parecem inesgotável. Ao afirmar-se a si mesmo, distingue-se do caos, sai do imperfeito e impõe-se como um ser completo no mundo das aparências. Desta maneira, a alegria de agir necessita ser bem dirigida. Seu regente é a capacidade de ação que o orienta para um caminho que lhe dá um objetivo, uma finalidade. A capacidade de ação nunca para, nunca se estagna. Segue sempre seu rumo. O Louco, ao encontrar assim uma razão para viver e avançar sempre, pode apresentar-se na 5ª Porta.

* A 5ª Porta - O alento da Vida ou o reencontro com o Hierofonte: Para seguir seu rumo sem fraquejar, precisa de um bafejo, um ânimo, uma respiração lenta, profunda e um coração em repouso. Ao perceber, receber e conhecer esse alento, o Louco pode dirigir-se para a 6ª Porta.

* A 6ª Porta - A União ou o reencontro com os Enamorados: É o amor que permite que os seres se unam, se juntem. O amor é o canto que envolve a terra e flutua no ar da Primavera. Mas, para que dois se juntem com esta finalidade, é necessário que haja um desejo. O Louco, ao ter a experiência do desejo, está agora em condições de bater à 7ª Porta.

* A 7ª Porta - A Busca do Guerreiro ou o reencontro com o Carro: Vai até o fim do desejo, da escolha, do caminho, que é seu destino. Luta contra tudo que o faça suscetível de voltar atrás, de desviar-se de sua rota. Confia em seus desejos, nos pensamentos e idéias que possa expressar, que são únicas, embora provisórias, mas tem de levá-las até o fim. Ao levar seu carro até os limites de seu sonho e de sua consciência, o Louco pode apresentar-se na 8ª Porta.

* A 8ª Porta - Os limites da vida ou o reencontro com a Justiça: Uma vez na fronteira da vida, onde se encontra suas origens, o homem não tem outro caminho possível que não seja o eterno recomeçar, uma imensa harmonia na qual tudo de contra perfeitamente em seu lugar, imutável. Trata-se de um novo nascimento. Através do percurso até a 8ª porta, o Louco descobriu o amor e o desejo escondidos em seu seio, em seu alento. O amor e o desejo são a sua salvação. Ao nascer em outra vida, pode dispor-se a franquear a 9ª Porta.

* A 9ª Porta - A Consciência revelada ou o reencontro com o Eremita: O sopro é o espírito. É um pouco como uma serpente que ondula e produz energia, pensamentos, desejos, atos. O espírito deve dar-se conta de que existe. O Louco, ao ter tomado consciência de seu espírito, pode bater à 10ª Porta.

* A 10ª Porta - O Conhecimento do Destino ou o reencontro com a Roda da Fortuna: Desta maneira, cada pensamento se converte em ato, cada causa se transforma em efeito. Ao ter compreendido o sentido de seu destino, que não é outro senão o de fazer girar a roda da vida, o Louco pode abrir uma 11ª Porta.

* A 11ª Porta - A riqueza das riquezas ou o reencontro com a Força: Tendo um espírito, uma consciência e um destino, o homem é rico de si mesmo. Ao ter medido essa força, o Louco pode, a partir de agora, ficar no umbral da 12ª Porta.

* A 12ª Porta - O Guia do Destino ou o reencontro com o Enforcado: Neste caso, a roda da vida parece ter parado. O tempo está suspenso. Esperamos alguma coisa. O homem, ao ignorar seu destino e ao saber o papel que tem no jogo da vida, já não pode participar como antes. Precisa de uma outra razão para viver, de outra motivação. Precisa de um guia. Não compreendeu que esse guia é ele mesmo. É neste estado de espírito, em suspense, que o Louco se apresenta diante da 13ª Porta.

* A 13ª Porta - A Grande Passagem ou o encontro com a Morte: Tudo tem um fim. É assim que a natureza e o mundo se regeneram sem cessar. Da mesma forma, tudo que se semeia se colhe. Não se trata, portanto, de uma destruição nem de um fim em si mesmo, sem saída, mas de uma forma, uma gestação.
Até alcançar este estado, o Louco, em seu périplo pela roda da vida, não se dará conta de que está livre da condenação de nascer, viver, morrer e renascer sob sua própria forma, para chegar sempre ao mesmo ponto de retorno.Convertido em um novo ser, poderá situar-se então diante da 14ª Porta.

* A 14ª Porta- A Revelação ou o encontro com a Temperança: Ao ser libertado de todas as correntes que o amarravam à vida e os encerravam nos ciclos sem fim do eterno retorno. Nele, para ele, as correntes da vida circulam deste modo sem fim, regeneram-se inesgotáveis, imortais, eternas. Tendo esta revelação das fontes de vida fecundas e renovadas sem cessar, que nascem e circulam nele, o Louco poderá bater à 15ª Porta.

* A 15ª Porta - A experiência do poder ou o encontro com o Diabo: O Louco é, portanto portador de uma essência de vida pouco comum, visto que está na origem de toda a existência.
Podemos imaginar um ser, um mundo, um universo em constante expansão e sem nenhuma trava, nenhum limite exterior que consiga pará-lo, já que se acharia igual a um deus? Esta é a tentação do Diabo, o anjo caído do Tarô, portador de uma força, uma força da qual o Louco teve a revelação quando atravessou a porta precedente. Ao ter tido a mencionada tentação e não ter sido vítima dela, pode apresentar-se à 16ª Porta.

* A 16ª Porta - A catástrofe ou o encontro com a Torre: Seja qual for o privilégio do Louco, nosso representante que nos situa neste ciclo da Roda da Vida do Tarô, nunca se deve esquecer de onde vem, nem de onde tira sua essência, sua força, sua origem, sua vida eterna.
Este é o sentido da catástrofe, uma revolução, um retorno ao ponto de partida. Tendo regressado dela, o Louco pode atravessar a 17ª Porta.

* A 17ª Porta - A inspiração do coração ou o encontro com a Estrela: Quem tem um coração livre não tenta exercer nenhuma influência. Vive com naturalidade em osmose com tudo que está longe dele, embora o agarre se vier até ele.
A inspiração sabe  sempre o que deve fazer no momento oportuno e aproximado. Deste modo, ao ter adquirido esta liberdade, o Louco pode bater à 18ª Porta.

* A 18ª Porta - A sede de liberdade ou o encontro com a Lua: Não são os laços exteriores que aprisionam o ser, mas os sentimentos, os desejos, as necessidades. Nosso Louco deve criar suas próprias raízes pela força do seu espírito e utilizando sua inspiração para se converter em um ser livre. Sendo ele uma luz, poderá lançar-se para a luz da 19ª Porta.

* A 19ª Porta - A procura da unidade ou o encontro com o Sol: É bom ter raízes sólidas.

* A 20ª Porta - O sentido da medida ou o encontro com o Julgamento: O ser, uma vez unido, unificado, uma vez que encontrou seu estado original, pode julgar-se pelo que é, e não em termos de bem e mal. Uma vez encontrada, o Louco poderá ascender ao estado último da Roda da Vida.

* A 21ª Porta - A Realização ou o encontro com o Mundo: Eis aqui um nível de consciência que não admite definições: as palavras o tornariam aproximativo, esquemativo, ilusório. A busca do Louco, a nossa busca, ultrapassa nosso entendimento.