Assim como o primeiro grau prescreve a vitória sobre as paixões e emoções, correspondentes à ideia de purificação, assim no segundo grau nos é exposta a idéia de iluminação ao recordar-se que seu principal objetivo é o desenvolvimento das faculdades intelectuais, artísticas e psíquicas. Segundo prescreve o nosso ritual, o candidato a esse segundo grau deve dar provas de progresso no primeiro.

    Já expus no capítulo anterior que antigamente a Ap. permanecia nessa condição durante sete anos, e às vezes mais, porque os superiores vigiavam escrupulosamente a conduta do candidato na vida diária; e até que ficassem convencidos de que havia desenvolvido as qualidade requeridas, não lhe consentiam passar adiante. Atualmente parece não haver limitação de tempo, ainda que as constituições comaçônicas prescrevam que o Ap. há de assistir a determinado número de reuniões e à classe especial em que periodicamente se instruem os Aps. . Também se lhe exige que haja aprendido a recitar de memória a fórmula do J... do primeiro grau, e que responda em Loja aberta a umas tantas perguntas regulamentares. Já nos referimos à primeira dessas perguntas, que é de capital importância porque vibra a nota fundamental do conjunto, pois quando se pergunta ao candidato onde se preparou primeiramente para ser maçom, se lhe diz que responda: "Em meu coração", para dar com isso prova de que a preparação interna é de importância muitíssimo maior que externa. Depois há de se explicar como se preparou no mundo físico e que o iniciaram numa loja justa, perfeita e regular.

    Segue-se logo a estranhamente expressa idéia de que o Sol está sempre no meridiano em relação à Maçonaria, o que se pode interpretar no sentido de que o Logos derrama continuamente Sua plena energia sobre todas as Lojas maçômicas, seja qual for o ponto em que se achem. Parece que na história da Maçonaria houve época em que foi costume dividir a Loja em três ou celebrar a reunião em três locais distintos ao mesmo tempo: o mais extrno para a câmara de Aps., presidida pelo S. V. ; o intermediário para a câmara de Cs. , presidida pelo P. V.  ; e o terceiro ou interno para a câmara de M. , presidida pelo V. M. . Tal é, segundo se crê, a razão de que uma vez que o P. D. tenha transmitido ao P. V. a ordem do V. M. , haja de esperar a chegada do S. D. do local exterior. Segundo essa opinião, como o S. V. preside a Loja dos Aps. , e representa o sol no meridiano, é muito apropriado dizer-se que a cerimônia de Iniciação se efetua figurativamente ao meio-dia.

    Depois se lhe pergunta o que é a Maçonaria, e o candidato a descreve como "um peculiar sistema de moral velada em alegorias e ilustrada por símbolos". Essa resposta sempre me pareceu um tanto equívoca. A moral maçônica nada tem de peculiar, pois é a mesma proclamada por todas as religiões do mundo, quiçá fosse acertado dizer que o peculiar da Maçonaria é sua feliz exposição do sistema de moralidade e que o seu simbolismo é singularmente único e sugestivo.

    A maçonaria é, sem dúvida, uma das mais interessantes e influentes sociedades secretas do mundo, e conta em suas fileiras uns 5 milhões de homens comprometidos a manter os laços da fraternidade. E na admirável pompa de suas cerimônias, nos rituais de seus diversos graus, ordens, cavalheirismos e ritos, se encerram esplêndidos ideais e profundos ensinamentos de vivíssimo interesse para quem estude o aspecto oculto da vida.

    Ainda que hoje em dia os maçons não deem à sua Ordem o nome de religião, tem ela origem religiosa, e faz obra religiosa ao auxiliar seus Iniciados e, por meio deles, o resto do mundo. Para muitos Irmãos, a Maçonaria é a única religião que eles têm professado, e seguramente muitos deles praticam seus nobres princípios, porque a Maçonaria masculina é uma sociedade assobrosamente caritativa, assim como um "sistema de moral", e oferece uma disciplina muito formosa por meio do exercício da benevolência e fraternidade.

    Na Inglaterra e suas colônias, e nos Estados Unidos da América, são numerosas as instituições de beneficência e caridade mantidas pela Maçonaria; entre elas, escolas e orfanatos admiravelmente administrados. Por essa circunstância e pela irrepreensível conduta de seus membros, a Maçonaria goza ali de muitíssimo respeito, ainda que na França e Itália se haja desprestigiado um tanto por haver-se confundido com os partidos políticos anticlericais.

    Infelizmente os maçons modernos têm esquecido quase por completo o que poderíamos chamar caridade interna, ou o seu poder de atuar nos planos superiores. Pouco compreenderiam se alguém lhe disesse: "Poderíeis emitir correntes de energia mental, e esta seria uma das modalidades de vossa caridade". É penoso que se haja descuidado de tal maneira dessa obra interna, porque é um formidável agente do bem, e na qual podem tomar parte todos os Irmãos. A caridade externa depende da riqueza privada de uns tantos; mas todo maçom, por pobre que seja, pode dar seu pensamento.

    Naturalmente, nem todas as Lojas se acham no mesmo nível intelectual, e algumas empregam muito tempo em festins e muito pouco no estudo; mas basta ler a bibliografia sobre esse particular, para notar que ao menos nos países da lingua inglesa têm sido sempre nobres e enaltecedores os objetivos da Ordem. Atentemos, por exemplo, para as seguintes declarações:

O verdadeiro objetivo da Maçonaria pode resumir-se nestas palavras: apagar entre os homens os preconceitos de casta, as distinções convencionais de cor, origem, opinião e nacionalidade; aniquilar o fanatismo e a supertição; extirpar os ódios de raça e com eles o açoite da guerra. Numa palavra, chegar por livre e pacífico progresso a uma fórmula e modelo de eterna e universal justiça, segundo a qual todo ser humano possa desenvolver livremente as faculdades de que esteja dotado, e concorra cordialmente e com todas as suas forças para a felicidade comum da espécie humana, de modo que a humanidade inteira seja uma família de Irmãos unidos pelo afeto, sabedoria e trabalho.*

O mundo inteiro não é mais que uma república, da qual cada nação é uma famíla e cada indivíduo um filho. Sem derrogar nenhum dos diferentes deveres que requer a diversidade de nações, a Maçonaria tende a criar um novo povo, composto de homens de distintas nacionalidades, mas ligados pelos laços da ciência, moral e virtude.**

* History of Masonary, por Rebold.

** Morales and Dogma, por Albert Pike, p.220.

A Vida Oculta na Maçonaria, C. W. Leadbeater 33º