A exegese Cristã empregada em nosso Sistema nada mais é que mitologia para confundir nossos inimigos, até mesmo nos dias atuais. Substituir, pelos seus credos, nossos conhecimentos e segredos, a priori, para não serem profanados e não levar-nos novamente às perseguições conforme outrora foram executadas. Como por exemplo, o São João; todos nós sabemos a omportância que nossa Ordem concede aos João Batista e João Evangelista; entre outras razões, ambos os santos representam, pela extraordinária riqueza espiritual que suas mensagens contêm, a espinha dorsal e o eixo invariável que sustenta nosso edifício. Em uma outra leitura paralela vemos alguns aspectos do complexo simbolismo astronômico solsticial, associando-os, tanto quanto nos seja possível, a determinados aspectos do ensinamento iniciático e cosmológico de nossos dois santos padroeiros.

    Um dos temas de maior importância que concebeu a Tradição Macônica é o do Rito, como forma transmitida desde a Antiguidade, para sacralizar o tempo e o espaço.

   A palavra Rito, ritus em latim, procede da raiz sânscrita rt, a mesma que encontramos em ritli: marchar, ir, encaminhar. Também a chamamos em rita (que significa ordem), e assim mesmo em "arte" e em "ritmo". O Rito é por definição qualquer ação realizada "conforme a ordem"; considerando essa ordem no sentido mais amplo, é dizer como expressão da Norma universal, o que as tradições Hindus e Budistas chamam de Dharma, a Lei, ou harmonia cósmica. A ordem cósmica é o rito por excelência; e essa ordem, de origem supra-humana, é o modelo ou paradigma de qualquer Rito, ou gesto ritual, o que reproduz em suas indefinidas formas. Nas antigas sociedades tradicionais, as quais a existência estava impregnada de sacralidade, tudo tinha um caráter ritualístico.

    A maçonaria tem um Rito próprio, totalmente a parte das religiões, isto é, sabemos que a Maçonaria não é religiosa, nem está submetida à estriteza do dogmatismo, qualquer que seja seu distintivo. A verdade das coisas é demasiado tica e genenrosa para que lhe imponhamos limites, manifestando-se em cada um de nós como liberdade sem travas. O mesmo João recolhendo as palavras de Jesus, nos diz em Seu Evangelho: "A verdade vos libertará". A Maçonaria não é dogmática nem religiosa, mas possui uma doutrina e um método de trabalho e nosso dever é conhecê-los, saber do que se trata e levá-los a cabo. A única coisa que nos exige é que nos desembaracemos de tudo o que nos é supérfluo e acessório, e nos encerremos na nossa câmara particular de reflexão; "deixar os metais na porta do Templo", que não são outros senão aqueles que desejamos edificar em nosso interior, pois esse que vemos é só o seu símbolo. Com efeito, devemos estar igualmente ligados por laços de amor ao Conhecimento e à Verdade. Acreditamos que esta é nossa marca ou selo distintivo pelo que poderíamos nos reconhecer como tais.

    Naturalmente, é óbvio que cada qual pode e deve empreender a busca do Conhecimento, seguindo a inclinação de sua natureza, e encarná-lo à luz de sua íntima reflexão e com as armas das quais se dispuser. Ademais, como diz o Livro da Lei, dos cristãos, "ninguém pode acrescentar um só côvado à sua estatura", chegando nesta busca até onde lhe permitam suas possibilidades de compreensão. E até mesmo mantendo silêncio sobre as verdadeiras conquistas, pois o caminho é Pessoal, Intransferível e Solitário, e não esqueçamos a máxima: Saber Querer, Ousar e Calar.

    Para o mundo moderno, carente de compreensão acerca do sagrado, o espaço-temporal resulta sempre uniforme, insignificante e totalmente profano. Mas para o maçom, herdeiro da Antiga Tradição, há pontos significativos no tempo, determinados pelos movimentos da Terra e pelas revoluções do Sol e dos planetas. Ele observa cuidadosamente pelo estudo a astronomia, que ele celebra e sacraliza, permitindo-se destarte, conhecer outras dimensões do mesmo e empreender a viagme iniciática que o conduzirá para o Oriente Eterno, onde finalmente o tempo se detém, pois entendemos que o tempo não é linear, e sim holográfico na sua complexidade.

Templo Maçônico - Helvécio de Resende Urbano Júnior 33º