Conversando com Miguel

- Caro Miguel, como ainda temos algum tempo vago, poderia explicar-me sobre alguns conceitos, pois tenho algumas dúvidas?

- Não só as explicarei como também aprenderei com você ao questionar-me.

- O que é uma Sephirah?

- O termo Sephirah tem várias interpretações. Por uma lado é cifra, como número ou valor; também é Safira ou céu azul cristalino, como uma pedra preciosa; por outro lado alude aos poderes ou aos navios divinos; é também os instrumentos ou ferramentas do governo de Deus e os dez vestidos ou túnicas com que se veste a divindade. Em síntese, são os atributos do Eterno. Segundo a Kabbala, Deus somente pode ser conhecido por meio de seus atributos, ou seja, que o Deus que não podemos compreender é o Deus criador. São as obras de Deus que falam por ele. O Deus oculto, o ser mais profundo da divindade primordial, não possui atributos nem qualidades, isso é denominado como "Ain Soph" infinito. No processo em que esse ser oculto se manifesta e atua na criação possui atributos. Todos os homens, qualidades e atributos são metafóricos para nós, porém não para Ele. Quer dizer, os atributos e o ser ocultos são Unos.

- Poderíamos dizer que as Sephiroth são intermediárias entre o homem e Deus?

- Não, as Sephiroth não são um intermediário externo entre o homem e Deus. São as diversas fases da manifestação de Deus na criação. Deus mesmo é o poder criador anterior ao mundo natural. É o silêncio da criação.

- Quantas são as Sephiroth?

- São dez. Quando se fala no singular é Sephirah, no plural é Sephiroth. Vou nomeá-las na ordem descendente, do oculto para o manifestado: Kether, Coroa Suprema ou Vontade Primordial; Chokmah, Sabedoria ou Idéia Primordial; Binah, Inteligência ou Diferenciação; Chesed ou Gedulah, Amor ou Misericórdia; Geburah ou Din, Poder de Deus manifestado como Juízo, rigor ou limite; Tiphereth ou Rajamin, Compaixão, Harmonia; Netzah, infinita Paciência de Deus Vitória e o Amor na Sensualidade Exaltada; Hod é Majestade, também o Intelecto Maior; Yesod, a base ou o Fundamento de todas as Forças Ativas de Deus; e finalmente Malkuth, Reino de Deus, onde se reúne todo o Manifestado.

- Os nomes têm relação com seus significados?

- Sim, por exemplo, Kether é a Sephirah mais elevada e significa Coroa, enquanto Malkuth é a mais inferior e significa reino. Nesse sentido, coroar ou iluminar nosso reino ou vida é unir Kether com Malkuth ou o superior ao inferior, ao oculto e ao manifetado.

- Agora, são dez, porque o número dez é um ciclo, ou seja, por voltar ao um?

- Sim, são dez esferas de manifestação divina que Deus emerge de sua morada oculta. É, sem dúvida, um universo unificado ou mundo da união.

- O que é Ain Soph?

- Na metáfora, um símbolo da Árvore, o Ain Soph é a Raiz das Raízes e também a Seiva. Cada um dos atributos ou ramas existe por virtude de Ain Soph.

- E como se manifesta isso no ser humano?

- O ser humano é análogo a esse simbolismo. É a sua imagem e semelhança que Deus criou. Os membros e partes do corpo humano não são mais que imagens, de certo modo, espirituais de ser, o qual se relaciona, na Kabbala, com o arquétipo Adão Kadmon ou ser humano essencialmente primordial. De onde Ain Soph é a alma e as Sephiroth são como um corpo na manifestação existencial do espírito. Suas perguntas foram muito pertinentes, pois daqui para a frente não encontraremos muitas palavras vulgares para explicar-lhe os planos superiores. Dessa forma, inevitavelmente entraremos efetivamente na linguagem Kabbalística.

Agradeci meu amado Irmão beijando-lhe o rosto pelas explicações tão claras e despedimo-nos; segui na direção indicada.

Templo Maçônico - Helvécio de Resende Urbano Júnior 33º