Deus -  O Evangelho à Luz do Cosmo

O homem moderno, exclusivamente preocupado com a saúde e a eficiência do seu equipo orgânico, procura extrair dele o máximo de gozo e prazeres ilusórios, embora ainda não saiba o que é, de onde vem e para onde vai. Requinta-se no vestir, comer e divertir-se. Ativa epicuristicamente todos os desejos e vive as mais indisciplinadas emoções, porém sem conseguir libertar-se do pelourinho das sensações. Através de uma vivência desnaturada e sem qualquer controle sensorial, confundindo a exploração insensata do seu corpo carnal com a autenticidade humana, o cidadão terrícola vive submisso ao primarismo de uma existência física, sem qualquer identificação com o espírito imortal. Abusando da mediocridade e transitoriedade dos prazeres carnais, ele caminha entontecido para o túmulo, copiando o turista de aparelho fotográfico a tiracolo, que fixa paisagens e edificações desconhecidas, mas não promove qualquer renovação íntima.

Graças à técnica avançada e à ciência quase miraculosa, o homem terreno atinge, na atualidade, o máximo na exploração dos sentidos e emoções. Eufórico pelos requintes modernos que lhe proporcionam o excesso de conforto e gozo material, atendendo-lhe as exigências mais epicurísticas do organismo, envaidece-se pela facilidade e rapidez com que se move entre os pólos antípodas e as latitudes geográficas mais distantes do seu orbe. Certo de que dispõe de um poder incomum, então olvida Deus e ironiza a ternura comunicativa do apelo espiritual do Cristo-Jesus.

Livro: Ramatis - O Evangelho à Luz do Cosmo, Preâmbulo - Psicografia: Hercílio Maes

 

 

A Quimera de Barro

"O falso brilho da existência terrestre atrai os sentidos do espírito desencarnado para envolver seu corpo sutil nas dobras temporárias de barro que a principio é frágil e um pouco perfumado com ecos de aroma soprados das doces flores dos prados divinos. Mas, lentamente, a atmosfera rarefeita que envolve o jovem se dissolve como as despercebidas ondas do mundo, colidindo contra o corpo, modelando e batendo a carne trêmula de vícios, dos hábitos, dos humores da vida, até que as pétalas delicadas se inclinam e sejam trançadas numa flor torcida.

Também aparente beleza do riacho-prateado e dos gramados que fascinam o espírito simplório por este reino, dissolvem-se suavemente dentro da selva, enquanto esta se enche com bestas luxuriosas e, neste pandemônio, a alma intoxicada de viver se embebeda com o vinho de Lethe(1), perdendo a lembrança de seu estado angelical.

[1] - Lethe - Rio da Mitologia Grega existente no Hades, região para onde vão as almas dos mortos. É conhecido como o “Rio do Esquecimento”. Antes de encarnar, as almas têm de beber de suas águas para esquecerem as vidas passadas.

Michael Juste

Livro: Templo Maçônico - Helvécio de Resende Urbano Júnior 33º