PERGUNTA: - Os ateus asseveram que Deus não existe; que o Universo é apenas obra do acaso, talvez, produto de um acidente inexplicável. Que dizeis?

RAMATÍS: - Respeitamos a convicção de cada homem. Contudo, crermos que o acaso, ou um incidente imprevisível, possa produzir fenômenos e fatos inteligentes como é a Vida no Universo, é realmente um acaso ilógico. Um acidente não cria leis tão sensatas, lógicas e sábias, que tanto disciplinam de modo genial e correto o turbilhão de elétrons em torno do núcleo atômico, como também amparam e proporcionam racionalmente a coesão dos astros suspensos no Cosmo e girando em volta dos centros solares. Ademais, todos esses astros movem-se em direção a um objetivo correto e útil, com suas estruturas estáveis, perfeitas e complexas, demonstrando um plano de inteligência incomum e superior ao mais avançado índice de intelecto humano. Já dizia célebre filósofo persa: "Se Deus não fez o mundo, precisamos procurar com urgência o responsável por acontecimento tão sábio e lógico". 1

1 - N. do R. - o cientista inglês Edmorst, em sutil e irônico conceito, assim se expressa sobre a possibilidade de o acaso substituir Deus: "Se o acaso ou simples acidente pode criar fatos inteligentes, então temos de admitir que, jogando uma bomba dentro de uma tipografia, dali pode surgir um dicionário completo, como conseqüência desse acidente, embora sem qualquer plano ou interferência do tipógrafo".

PERGUNTA: - Porventura, Deus não é fruto de uma necessidade psicológica do homem? Essa idéia da Divindade não se aprimora tanto quanto, também, progride e se aperfeiçoa a criatura no seu mundo material?

RAMATÍS: - Não há dúvida de que a idéia de Deus sempre evoluiu conforme o progresso, entendimento e a cultura humana. Aliás, é grande a diferença entre a concepção divina do Tupã dos selvagens e a crença na Suprema Inteligência, que hoje os espíritas admitem sobre o Criador. Mas Deus não é apenas uma idéia e fruto das necessidades psicológicas humanas, que evoluiu conforme o próprio homem. Em verdade, à medida que mais compreendemos a Vida, o nosso psiquismo também mais se apercebe da Verdade Cósmica. Não é apenas a luta para ser livre da matéria, que nos fará sentir Deus, mas é o binômio "sentir" e "saber", que realmente desvenda o panorama do Infinito, pois liberdade sem sabedoria é poder sem direção.

 

PERGUNTA: - Afirmam alguns cientistas, filósofos e psicólogos que a idéia de Deus é tão-somente um recurso intelectivo e explicativo do homem para justificar a sua própria vivência humana. O Criador, então, seria fruto de uma necessidade psíquica da criatura, jamais uma realidade. Que dizeis?

RAMATÍS: - É evidente que, se o homem existe, também existe o Universo que lhe ampara a vida; e, se existe como efeito de uma realidade endossada pela mente humana, há de existir, também, uma causa primordial que plasmou o Universo, como é Deus. Pouco importa quanto à concepção, suposição ou natureza dessa realidade divina; o evidente é que Ele existe acima e além da concepção infantil mitológica ou da própria pesquisa científica. Todo efeito deriva-se de uma origem ou causa e, afirma a própria ciência, que não há "efeito sem causa". Assim, o pêssego provém da semente de pêssego, o rio caudaloso origina-se de um modesto fio de água da nascente pequenina, os astros procedem de certas nebulosas, que se materializam compondo as galáxias estelares do Universo. O homem é uma entidade criada; conseqüentemente e sob a premissa lógica de que o efeito tem causa, o homem é o efeito criado de uma causa criante - Deus.
A fim de satisfazer a sua mente, o homem não precisa pressupor a existência de uma entidade fantasista chamada Deus. O apercebimento da existência de Deus é pura questão de sensibilidade psíquica, pois quando a criatura sente que existe como individualidade ou consciência definida no seio do Cosmo, ela também sente no âmago de si mesma a natureza divina e criadora do Pai. O homem não é um ser estático e produto de um acaso acidental, que após compô-lo e criá-lo o abandonou, como efeito de uma causa sem inteligência e discernimento progressista. Mas é uma entidade em incessante elaboração, cuja linhagem inferior se apura e se eleva cada vez mais sobre a própria espécie animal, que lhe fornece a vestimenta carnal. Até onde parece não existir a vida e o progresso, a Lei ali opera determinando estágios de energia, que depois eclodem em novos campos de manifestações salutares.
Sob o esquema de que Deus está no próprio homem, o ser humano não precisa opor dúvida quanto à existência real do seu Criador. Basta-lhe um pouco de percepção psíquica para verificar, em si mesmo, que a vida macrocósmica aciona-lhe incessantemente a mente e o coração, objetivando estados mentais cada vez mais superiores e emoções qualitativas incomuns. A faculdade de o homem apreciar e sentir o seu próprio poder criador, quando partindo do conhecimento comum da natureza ele ainda produz formas e aspectos mais belos e coerentes, deveria ser suficiente para provar-lhe a existência insofismável de uma fonte inteligente e conhecida, tradicionalmente, como Deus.
Diante de uma rosa, o homem pode duvidar e até sofismar da existência inconteste da roseira que lhe deu forma, expondo qualquer teoria fantástica ou excêntrica, que lhe satisfaça a mente, para justificar a origem artificial da flor. No entanto, jamais o homem pode eliminar a realidade do solo, que é necessário para a floração da rosa, assim como não pode negar o terreno divino onde floresce a criatura humana.

Ramatis "O Evangelho à Luz do Cosmo" - Hercílio Maes